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G. Rafael Pieroni
Rafael Pieroni, São Paulo, 1983
Vive e trabalha em Sorocaba
Formado em Arte e Cultura Fotográfica pelo Centro Universitário Senac.
Atuou como fotojornalista para a Associação Viva o Centro e como produtor no Estúdio Madalena. Ministrou as oficinas de fotografia do projeto Vozes Periféricas e coordenou o núcleo de fotografia do projeto Ocupação Criativa. Expôs Por Todos os Lugares o Corpo em Movimento no Sescs Vila Mariana e Sorocaba.
Em 2015 apresentou seu trabalho Tornar-se o que se é na galeria Fernanda Monteiro em Sorocaba.
TEXTO DE APRESENTAÇÃO
Tornar-se o que se é
Ao fecharmos os olhos, abrimos para nós mesmos uma janela para a alma e nos envolvemos com uma paisagem interior reveladora de emoções, motivações e marcas que impulsionam propósitos ainda não muito claros, mas que esboçam novas maneiras de apreender a realidade circundante. O quadro ou narrativa autorreferencial pode ser um ponto de partida, mas não o é necessariamente, pois muitas vezes a autodescoberta se dá pela apropriação do mundo através da câmera. Trata-se de um “conhecer sem conhecer”, do desvelamento de uma realidade oculta através do exercício do olhar.
Na medida em que se observa imagens familiares, percebe-se nelas uma aura desconhecida, um pequeno detalhe que permaneceu oculto na lembrança, uma pequena farpa que escapou à percepção e manteve-se secretamente escondida entre elementos indiciais. Redescobrir a beleza no doméstico, no trivial, na simplicidade é transcender o literal, é alcançar o todo pela parte.
Quando se ultrapassa os limites do referente, suplanta-se o denotado. O tema perde a importância e passa a ser apenas um pretexto, um objeto que se presta a uma finalidade outra, mais abrangente e metafórica, resultado de um maior envolvimento. Pode-se conhecer muito do mundo a partir da observação do que está ao alcance das mãos, da mesma forma que é possível ver o próprio rosto a partir da alteridade. A arte é um campo que permite partilhar o que é próprio e apropriar-se do alheio.
Empresto aqui as palavras de Susan Sontag:
"Ao trazer o exótico para perto, ao tornar o exótico familiar e o doméstico, as fotos tornam disponível o mundo inteiro como objeto de apreciação. Para os fotógrafos que não estão restritos a projetar suas próprias obsessões, existem momentos arrebatadores, temas belos em toda parte. Os temas mais heterogêneos são então reunidos na unidade fictícia oferecida pela ideologia do humanismo." [1]
Ao projetar-se a si mesmo naquilo que vê, Rafael Pieroni retoma e resignifica o cotidiano de uma infância em contato com a natureza, base de um discurso sobre a humanidade presente nas pequenas coisas revelada através de uma pesquisa fotográfica ainda em curso, mas já com grande densidade.
Fernanda Monteiro